A insustentavel leveza do nada

O nada é leve, levezinho. O nada é nada e pode ser tudo.

Por exemplo sempre me espantou ter aqueles amigos que me apoiam incondicionalmente. É fantástico ter amigos desses. Passam-me um cheque em branco a tudo o que digo e a tudo o que faço. Adoro esses amigos, são uma preciosidade.

Tenho também aqueles amigos que o que digo, ou o que faço lhes soa ameaçador. Põe em causa as suas opções, sem que eu o tenha feito com esse objectivo.

Provoca-lhes um mal estar o facto de seguir por um caminho que eles não escolheram, por um método que não lhes parece ser o melhor. E esses sempre me mentem com sorrisos amarelos, comem as unhas quando as coisas me vão bem, e têm um sorriso sádico quando estou em apuros.

Há aquele amigo que lhe é indiferente o que me passe, ou inclusive o que eu lhe diga. Este tipo de amigos atrai-me particularmente. Acabam por não escutar nada do que digo, nem sequer pensar como estarei eu a safar-me, mas soltam frases perdidas que me fazem reflectir. A verdade é que me ajudam a sair um pouco da caixa e pensar desde outra perspectiva.

Por fim os amigos que eu creio que todos deveriam ter.

Os fodidos para caralho.

Aqueles que nos mandam à merda quando lhes dizemos algo que não lhes gosta, ou que se sentam ao nosso lado para dizer-nos que desta vez fomos longe demais e que a cagámos.

Os que sabiam há mais tempo que nós que a nossa namorada não era tão perfeita como parecia. Os que nunca nos dizem que estão aí para ajudar quando as coisas dão pro torto. Em realidade estes não dizem nada.

Estes levam-nos na bagageira do carro para não lhes vomitar-mos nos estofos numa noite de copofonia. Estes vêm buscar-nos à esquadra com uma ganza no bolso. São ainda estes amigos do caralhão, os que nos olham depois de tanto tempo sem nos vermos como se tivesse sido ontem, uma palmada nas costas e a tomar cerveja por aí.

Não ter nada para oferecer é a melhor amizade que se pode ter. Nem palavras, nem promessas, o melhor que uma amizade tem, é não ter nada mais que a amizade sentida num olhar para dentro de nós.