sexta-feira, agosto 21, 2009

Saí até ao supermercado

Tinha fome e não tinha nada em casa. Decidi e após uma larga ponderação sair de casa em direcção ao supermercado.

Nem tomei um banho nem nada, barba enorme (é assim que se leva hoje, dizem), tudo muito selvagem.

Cruzei a avenida, como se faz largo o tempo de espera ao sol, aquele pedaço de tempo entre que o boneco vermelho se apaga e dá lugar a um luzente boneco verde.

Caminhei um pouco pelo passeio do lado esquerdo, é o caminho mais longo, mas o caminho à sombra, e aqui acreditem tudo pode ser distinto consoante o lado do passeio que escolhemos.

Já caminhando na rua do supermercado, e passando ao lado de uma paragem de autocarros, uma voz meio rouca, meio destroçada pelo mau trato da vida chamou-me "Guapo" e em seguida perguntou " por que me dejas aquí sola?".

Poderia aqui afirmar que não é nada usual em mim dar conversa a estranhos e menos a estranhos que não estão no domínio pleno da sua sanidade mental ou da nossa, depende da perspectiva. Mas é. E sim parei.

O elogio é o enaltecimento de uma qualidade ou virtude de algo ou de alguém, e se este era para mim, deveria aceita-lo e pelo menos esperar por mais. Aí dei-lhe conversa.

Apresentei-me como outrora um outro louco feliz se apresentara a mim. "Sou filho de António e Maria". Nada como deixar um estranho sentir-se normal entre nós. Parou dois segundos depois de tal afirmação, respondeu com uma só palavra "Júlia".

"Olha que coincidência a minha Maria também é filha da Júlia" respondi-lhe.

Ela voltou a elogiar a minha beleza, e eu todo contente. Era a 3ª pessoa com quem falava hoje, e já 2 elogios e que elogios. Depois perguntei-lhe porque levava a cara tão pintada. "Porque é verão, e estas são as minhas cores de verão".

-"Onde vais?"
-"À praia, e tu?"
-"Ao supermercado, tenho fome."

Entretanto chega o autocarro e antes de entrar a Júlia grita "Dile a Maria y António que su hijo es muy guapo, pero está un poco loco".

De repente dei meia volta e vim p'ra casa, já não tinha fome, mas estava todo contente. Só depois do Adeus entendi o que se tinha passado, um verdadeiro momento de loucura.

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