terça-feira, agosto 11, 2009

Hoje alegrei a noite a duas pessoas

Devo confessar que me sinto bastante dividido. Tenho que tomar uma decisão até ao final deste mês, e quanto mais se aproxima mais difícil se converte a questão.

Esta noite, movido por uma vontade enorme de usar o meu humor favorito, o negro (creio que aqui as raízes africanas da minha família podem ter uma certa influência), decidi imprimir um ritmo muito forte, qual Alberto Contador no Tour. Hoje ninguém me parava (soa mal, e tudo porque ninguém pára o Benfica e todos os anos é o glorigozo que nos dá).

Entre provocações mais fortes, minimização de carácter e existência, a sensação do dever cumprido trouxe uma outra necessidade. Necessitava ajudar alguém que necessitasse de um click.

Encontrei a Lúcia, uma amiga de uma amiga que andou por Portugal e agora vive no meu bairro. A Lúcia entre conversas sobre esta ou aquela coisa mundana levou-me sem querer até ao canto do ringue e falámos de música.

Eu passei-lhe primeiro isto



e disse-lhe "tenho 80% de certeza que te vai gostar esta música, não porque é bonita, mas porque este é o momento que te apeteceria ouvir-la".

E ela confirmou. A música serviu o seu propósito. A partir desta canção, a Lúcia que até aqui nunca tinha sido demasiado "acercada a mi", abriu a mão e apesar de provavelmente ser das poucas pessoas que aqui fala o nosso português, pela primeira vez conversámos.

A prosa desenvolveu-se, contou-me coisas que só podes contar a alguém que não te conhece, os medos, as dúvidas, as diferenças, a dor de crescer sem querer.

Foi interessante, até que a meio da conversa lhe sugeri outra musica.




e em seguida, copiei-lhe esta passagem da música.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

"É exactamente como me sinto" disse ela. Eu não lhe quis responder que é exactamente assim que vivo desde há um tempo largo. Não quis, porque este era o seu momento. Alguém já me tinha ajudado a mim, noutro momento, ou talvez não, mas este momento foi o momento que eu um dia quis passar por. Alguém que me entendera naquela linha tão fina entre a aventura e o sofrimento, alguém que não me dissera "deixa isto" ou "faz aquilo", apenas e só alguém que me deixasse claro que não estava só, que esse alguém também não tinha uma direcção para chegar a casa.

Depois disto falámos claro da minha obsessão, que coincidência das coincidências é sua também, True Blood. A meio desta conversa chegou-me uma mensagem de uma amiga.

Alguém que me faz muito feliz, mas pelos vistos não anda muito feliz. Falámos, li-lhe umas quantas passagens da minha primeira fase da tarde/noite. De repente aquela voz tristonha deu lugar a umas gargalhadas, contagiantes por certo. O que por norma seria uma conversa de 4 mins, transformou-se em meia hora ou mais. Acabei por lhe confessar, "adoro escutar a tua voz embriagada num riso estridente e alargado, faz-me bem". Ela agradeceu-me as palavras e atirou-me a responsabilidade por tal qualidade para cima dos ombros. "Fazes-me muita falta aqui" disse ela, eu respondi "faço falta a muita gente em muitos sítios, mas todos os sitios e toda essa gente faz-me falta a mim em todo o lado para onde vou".

Hoje alegrei a noite a duas pessoas, pensei quando escrevi o titulo deste post, mas ao tocar a terra com as mãos, percebi que afinal devo ser melhor com letras do que com a matemática, porque somos 3.

3 comentários:

Aelius disse...

Olha que estás a escrever muito bem.
Gostei destes pequenos textos, bem escritos e interessantes.

Geovana disse...

Então agora são 04... gosto de ler o que escreve... às vezes me deixa pensativa, às vezes alegre, mas quase sempre extrai algum sentimento. Bonito texto.

White Chocolate disse...

Mt nice!
Acho que todas as pessoas às vezes precisavam dessa sorte de encontrar alguem com quem falar...mas alguem desconhecido, como tu disseste: "...coisas que só podes contar a alguém que não te conhece, os medos, as dúvidas, as diferenças, a dor de crescer sem querer...".
Eu pelo menos sinto essa falta...

Amigo quando precisares já sabes, apita. Um abraço