Natália uma mulher de 30 e poucos anos com uma figura feminina atractiva é a personagem principal desta história.
A sua face transpira uma tristeza profunda. As lágrimas correm-lhe pelo rosto como se aquele riacho, que lhe percorre a cara, lhe vazasse a expressão.
Abre a nota que leva nas mãos, e pela centésima vez relê as palavras que lhe causam essa imensa dor.
Limpa quase ineficazmente as maçãs do rosto e num movimento pesado ergue o seu corpo, encaminhando-o sem forças, para a escadaria. Desce um por um, os degraus procurando um telefone público.
À medida que procura as moedas soltas na mala, de novo as lágrimas descem livremente pelo rostro de linhas suaves, gota a gota como bombas, as lágrimas estilhaçam ora na camisola de lã, ora na ponta da bota, com umas poucas a chegarem à calçada.
Antes de marcar qualquer número ela volta a tirar a nota do bolso, abre-a como se tratara de um documento valioso lê de novo o que nela está escrito. Palavra por palavra, Natália sente uma necessidade imperial que cada sílaba lhe penetre a alma como projecteis infalíveis na arte de ferir.
Como chegou até aqui Natália? A vida não lhe trouxe dificuldades maiores do que as que sempre pôde ultrapassar, mas estas palavras eram demasiado fortes. Não as suportava e ao mesmo tempo não as podia deixar de ler.
Com o indicador sem perder tempo para recordar o número de telefone, digitou-o. Do outro lado não houve resposta. Natália tentou de novo. De novo não obteve resposta.
Abandonou o telefone, repetindo a caminhada penosa até à escadaria, subiu passo a passo, degrau a degrau. De novo procurou o mesmo lugar onde esteve sentada antes. De novo abriu a nota e de novo leu palavra por palavra o que nela estava escrito.
Sem lágrimas e com a mesma dor Natália tentava pela primeira vez aceitar que aquelas palavras eram definitivas e que deveria aceitá-las.
O comboio aproxima-se da estação, ela volta a levantar-se e com ela o vazio e a tristeza. Natália deixou a nota para trás, mas o que ela tinha escrito jamais a deixará.
“
A dor que tento suportar não nos separará para sempre, espero-te do outro lado da linha. André”
2 comentários:
Temos escritor, sim senhor.
Muito bom sim senhor!
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